Mato Grosso como cenário do Livro "Colonizando Sonhos"
- francieliurbano
- 26 de jun.
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de jul.
Há livros que são como mapas de um tempo que já não volta, mas que ainda pulsa na memória de quem o viveu. Colonizando Sonhos, de Franciéli Urbano, é uma dessas obras raras: um convite para tocar com os pés da memória o solo vermelho do Mato Grosso na década de 1990.
Mais do que uma narrativa autobiográfica, este livro é um tributo vivo à terra, às gentes e às transformações silenciosas que moldaram o interior mato-grossense durante o processo de colonização recente. A autora, natural de Santa Catarina, chegou criança ao norte do estado e encontrou um universo novo: mata fechada, estradas de terra, rios límpidos, escolas de chão batido e comunidades que se firmavam entre a dureza e a esperança.
É nesse cenário que Franciéli reconstrói — com lirismo e realismo — as experiências de sua família ao migrar para um estado ainda em fase de formação social e territorial. As páginas de Colonizando Sonhos revelam o cotidiano de uma infância moldada por desafios e descobertas: a travessia em caminhão por estradas enlameadas, a escola de madeira no meio da mata, o cheiro do pão caseiro, o banho de rio às quatro da tarde, o rádio a pilha como elo com o mundo.
Mas o que torna essa obra tão enraizada no espírito mato-grossense é o modo como ela valoriza aquilo que muitas vezes não entra nos livros de História: a força das mulheres que costuram roupas e futuros; a coragem dos homens que constroem pontes com as mãos; a sabedoria de quem planta, colhe, faz o sabão e transforma o pilão em poesia.
Colonizando Sonhos é, assim, um documento afetivo da colonização dos interiores do Mato Grosso. Um livro que narra não apenas a mudança geográfica de uma família, mas a reconstrução simbólica de um Brasil profundo, diverso e, muitas vezes, esquecido. É memória viva das casas de pau a pique, das festas feitas com pamonha e rádio de pilha, das estradas que ainda hoje levam poeira e poesia.
Ao mergulhar nessas memórias, o leitor percorre as estradas de chão do norte mato-grossense, sente o cheiro do mato molhado, ouve o trotar dos cavalos e reencontra valores essenciais que essa terra tão vasta ajudou a conservar: trabalho, fé, família, simplicidade e sonhos.
Se você tem raízes no campo, ou seus pés só pisaram o asfalto e

deseja entender mais da alma do Mato Grosso, este livro é leitura indispensável. E se nunca pisou nessas terras, prepare-se: após as primeiras páginas, você terá vontade de calçar botas, abrir uma porteira e sonhar, como os primeiros que ousaram colonizar.



Comentários